sábado, 12 de novembro de 2011

Cheesecake sem queijo e o Corvo Espião

Imaginar o sabor do cheesecake em fusão com o café, fez-me acreditar que havia no mínimo uma razão para me levantar esta manhã. Não fosse isso, ainda estaria na cama, ou melhor, no chão, a retorcer-me e a gemer de dor. O médico deu-me um batalhão de comprimidos que só funcionaram no primeiro dia. Isso faz hoje 5 dias. Esta manhã, depois do cheesecake sem queijo e do café de café, tomei o último comprimido que restava do batalhão e liguei ao médico (desta vez e após 400 tentativas desde ontem, com sucesso) pedindo, tal qual uma dependente, uma solução para a dor quase insuportável. Tive que insistir para me dar nova prescrição (na farmácia aviam-na sem aquilo a que nós chamamos receita, perto está de uma farmácia self-service!!). Não fosse a insistência, ficaria todo o fim-de-semana a derreter-me com dores. Bom, na verdade vou passar o fim-de-semana a derreter-me com dores de igual forma porque os comprimidos funcionam 1/5. E esse 1/5 talvez seja efeito placebo.
Voltando ao cheesecake sem queijo, ao café de café e introduzindo o Corvo Espião, esta manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço nada convencional e, convinhamos, pouco saudável mas muito saboroso, recebi a visita já habitual do Corvo Espião. Este personagem vem cumprimentar-me e espiar o meu pequeno-almoço, todas as manhãs. Gosto de partilhar com ele a minha comida e raramente diz que não. Todavia, esta manhã não quis comer o cheesecake sem queijo que preparei ontem à noite com tanto amor e que me fez sonhar, por entre os gemidos de dor, com o anunciado momento em que as minhas papilas gustativas o iriam testar. 5/5. Para mim. Para o Corvo Espião 0/5. O cheesecake sem queijo estava tão bom que não consigo entender a razão pela qual o Corvo Espião não gostou. Se calhar é porque é um falso cheesecake e ele não se deixa enganar. Se calhar os Corvos Espiões só gostam de coisas verdadeiras. Tipo queijo de queijo, cheesecake de queijo, café com cafeína, omolete com ovos, cigarros com nicotina, vinho com alcool. Se calhar só nós, os Humanos, gostamos de coisas que não são essas coisas de que gostamos mas que é tão difícil viver sem elas que inventamos coisas parecidas mas falsas para continuarmos a nossa dependência doentia em vez que mudarmos os nossos hábitos quando eles nos são prejudiciais. Pois. É isso. O Corvo Espião achou ridículo comer um cheesecake sem queijo. Para ele não faz sentido chamar a uma coisa um nome que não corresponde à coisa. Se o cheesecake não tem queijo por que raio se há-de chamar cheesecake?? Certo que pensou isso e eis a explicação para ele não comer o maravilhoso cheesecake sem queijo!!!!!!!Como os comprimidos que estou a tomar. Na verdade, não estão a fazer nada mas mesmo assim não consigo imaginar mais 2 dias sem eles. "Porquê? Para quê?" perguntaria o Corvo Espião. "Se continuas com dor, porque queres continuar a tomar os comprimidos?", insistiria ele, se pudesse falar comigo. "É como o cheesecake. Se não tem queijo porque se chama cheesecake? Eu gosto de cheesecake com queijo. Senão prefiro comer mousse de chocolate. Se esses comprimidos não são comprimidos, porque os tomas? Porque te enganas? Porque te deixas enganar? Porque pedes para ser enganada?" Não tenho resposta para o Corvo Espião...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Hats & Co.

Ora viva!!! Quero partilhar o resultado de umas horas de trabalho criativo. Espero não ser a única a gostar do resultado porque, embora adore, não tenho cabeça para tanto chapéu! LOL


Então aqui deixo o link dos chapéus, pregadeiras e molas para cabelo que fiz: https://picasaweb.google.com/103332088979515615106/HatsAndCo02?feat=email


Beijos no coração :)

domingo, 26 de junho de 2011

Tempo

Tempo. Sempre ouvi dizer (e quase sempre acreditei) que o tempo muda tudo. Não creio. O tempo não muda nada. Apenas aceita upgrades resultantes do normal desgaste do mesmo. Olho à minha volta e vejo e sinto tudo da mesma forma. Da forma como sempre vi e senti. O sentimento de que as coisas não estão bem, não são perfeitas e nem para lá caminham, persegue-me através do tempo. Ontem, hoje e provavelmente amanhã, sentirei o mesmo. Resta-me a esperança e crença de que a vida me provará o contrário. Porque quero acreditar que sim. Quero muito que seja verdade. Estou a meio da vida. Gosto de pensar que já vivi metade e que a metade que me resta me vai fazer sentir que o tempo muda tudo.
Justificar completamente
A Índia é um país que se ama ou odeia. Eu nem amo nem odeio. Vagueio entre o amor e o ódio, todos os dias. Conheço pouco do vasto planeta que habito mas acompanha-me a forte sensação, a roçar a certeza absoluta, de que nenhum país do mundo é como a Índia. Todos os dias me deparo com situações surreais. Com o adquirir de um conhecimento profundo do que é este país vendido como o mais religioso e espiritual do mundo cada experiência é mais surreal. Religioso, ridiculamente, sim. Espiritual, pouco. Tão pouco que é quase nada. Tanta hipocrisia. Tanto desrespeito pela vida. Tanta ignorância. Tanta inveja. Nenhum valor para além do dinheiro.

A minha vida desenrola-se por ciclos (penso que a de toda a gente mas eu só posso falar de mim, do que experimento). Dentro de cada ciclo, muitos pequenos ciclos se vão metamorfoseando. Estou no trânsito de um pequeno ciclo positivo para um negativo, dentro de um ciclo principal positivo ;-) Talvez por isso tenha sentido necessidade de escrever isto. Neste ciclo estou a olhar para as coisas negativas. Preciso disso até não poder mais, explodir e voltar ao mar-de-rosas indiano! LOL!!!

Uma mulher procura um cão de raça -desses a pilhas- quando de baixo da sua casa uma cadela deu à luz 6 cachorros, dos quais apenas 3 sobreviveram. Temo que, breve, passarão a 2. Um deles está doente. Pensei que era da comida, porque tem andado com diarreia desde há 3 dias, mas hoje quando visitei a sua família para a normal ração diária, quase morreu nas minhas mãos. Julgo que sofre de epilepsia. Pavor. Liguei para vários veterinários, mas como é domingo, nenhum pode ajudar. Ninguém lhes dá comida e todos os dias tenho que improvisar novos recipientes para a água porque alguém os esconde. Falei com a mulher que procura um cão a pilhas para que abandonasse a ideia de gastar tanto dinheiro num desses peluches e adoptasse um dos cachorrinhos e quase me internou num manicómio. “Estás maluca? Que nojo”” –disse.

Um búfalo fura o estômago de um pobre velho homem com um dos seus poderosos cornos. Uma hora depois, um dos “espectadores”, entediado com a falta de reacção (o velho rendia-se finalmente à morte) lá chamou uma ambulância. A ambulância chega, pergunta ao velho se tem dinheiro para pagar o serviço. O velho não tem dinheiro para pagar nem um grão de arroz. A ambulância parte sem o velho, que acaba por morrer 2 horas depois, com um grupo de gente à sua volta que nada faz senão observar. Eu chego, vejo um grupo de gente agitada. Pergunto o que se passa e contam-me a história. De forma tão natural que me impressiona mais a frieza desta gente do que o facto em si, um velho morto no meio da rua.

Um jovem moderno, consciente e inteligente (não estou a ser irónica), vestindo uma t-shirt que diz: Go Green Fellas! We have just one Earth! e com o qual discuto acerca da extrema poluição que existe no seu país, inaugura um maço de tabaco e atira o velho, vazio, para o chão onde tantos outros velhos e vazios maços de tabaco se acumulam.

Tempo? Podes mesmo mudar algo?