sábado, 24 de julho de 2010

Contradicoes indianas. Tudo ao mesmo, sem do nem piedade...

Havia um tipo em Bhagsu. Partiu ha ja uns meses. Andava a curar as pessoas com vicio em terapias e cursos. Ha malucos para tudo. Para crer que fazendo todas as terapias do mundo (desde as mais cientificas ate as mais esotericas) reencontram a sanidade fisica e mental e para crer que podem curar os primeiros! Na verdade, com um pouco de imaginacao, encontra-se forma de arranjar clientes para tudo. Clientes com sede espiritual. Clientes que pensam que veem a India (supostamente o pais da espiritualidade...) fazem uns cursos, umas sessoes disto e daquilo e tungas. Transformam-se em seres espirituais. Gandas malucos! Mas melhor que isso e crer que ha mercado para pagar um curso de desintoxicacao de terapias. LOL!!! Ou seja, por o dedo na ferida dos "capitalist spiritual seaker's", faze-los entender que ninguem vai transformar ninguem num ser equilibrado, sao e espiritualmente evoluido, de um dia para o outro, por muitos euros e dolares gastos e que por isso o melhor e parar de fazer tudo a eito, como se nao houvesse amanha, parar, reflectir e decidir usando sensatez q.b. (parece-me um gesto bonito, ate aqui) e, entretanto, gastar mais uns euros ou uns dolares num curso que ajuda a saber escolher ou nem isso, mandar tudo resto as ortigas, porque... "todas as respostas estao dentro de ti" (frase linda e verdadeira mas facilmente transformada em lugar-comum quase inocua). Brilhante, hein?
Esta conversa toda porque ao trocar umas ideias com um tipo que conheci ha umas semanas, fui "acusada" de viciada em conhecimento. Disse-me, esse tipo, que aparentemente pertencia ao grupo de clientes-alvo do gajo que desintoxica os viciados em terapias e cursos. Que tinha um problema por estar a aprender musica (flauta e canto indiano), yoga, ayurveda, massagens... Que pessoas como eu alimentavam este mercado espiritual sem nexo. Respeitei o seu input mas nao concordei, como e obvio. Na verdade, tudo o que tenho aprendido desde que cheguei a India, ha 8 mesesm esta inter-ligado. Menos obvia pode parecer a ligacao da musica com o resto. Nao que precise ou sinta necessidade de dar uma explicacao ate porque me parece de senso-comum mas tive que lhe explicar que a musica faz parte de mim, faz-me feliz, e uma tradicao indiana, fortemente presente no yoga, na meditacao, na devocao. Mantras, slokas, simples oracoes... nao podia estar mais ligado...
Bom, este mesmo "amigo", da sessoes que ajudam a descobrir qual a "tua" meditacao. Depois de todo o seu discurso... Porque segundo ele (e e verdade) cada um tem a sua forma de meditar. Vipassana, zen, o que seja, nao serve a todos, porque nem todos somos iguais. Concordo. So acho que nao pagaria a ninguem para me dizer qual a melhor meditacao para mim. Quero ser eu a experimentar, ate encontrar. Nao alimento este mercado espiritual sem nexo.
Shanti, shanti...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Step by step

Dharamshala tem sido uma boa experiencia. Aqui estreei-me na Ayurveda, com o Panchakarma, na musica, com as aulas de canto e flauta indiana e por fim com o Reiki. 3 e a conta que Deus fez! O Panchakarma deu-me a ceteza de que a Ayurveda e algo que quero estudar quando voltar a India. As aulas de canto e flauta indiana deram-me a certeza de que a musica faz parte de mim e que ha tempo para tudo. Sempre adiei o inicio da aprendizagem mas agora vejo que foi porque tinha que ser. E preciso paciencia e persistencia, qualidades que nao sao o meu forte quando nas primeiras tentativas os resultados nao sao os melhores. Agora, estou preparada. Sou cada vez mais paciente, estou cada vez mais apta a esperar resultados e a saber aprecia-los, pouco a pouco.
O Reiki... bom, o Reiki e algo que me "persegue" ha anos. Sempre me intrigou mas nunca tive vontade de aprender. Como "utilizadora" nao dizia que nao, mas como "praticante" nunca me atraiu. Ate ha pouco tempo, quando comecei a fazer massagem e comecei a sentir que ao tocar um corpo ha energias que se trocam. Nao querendo sugar nem ser sugada por ninguem, entendi que seria primordial aprender a gerir essa troca de energia. Melhor, tirar partido disso. Poder oferecer uma experiencia mais reconfortante, plena, quando faco massagem. Assim decidi iniciar-me no Reiki.
O Reiki e uma terapia de cura esoterica, pode dizer-se. Quanto mais aprendo mais me dou conta de que, tal como acontece com a musica, antes nao estava preparada. Tudo acontece no momento certo ;-) Para chegar a esta etapa, houve muita aprendizagem intermedia pelo caminho. Precisava de muitos conceitos, de muita sensibilidade e acima de tudo de muita fe. E quando digo fe, digo crenca total e incondicional em algo superior, alem do tangivel, do compreensivel, do racional, da logica. Sem duvidas. Porque com duvidas nada funciona. Nem o Reiki, presumo. Agora nao tenho duvidas da existencia desse algo superior. Nunca, em nenhuma circunstancia. Agora estou preparada para o Reiki.
Foi um longo caminho ate aqui. Step by step. O fim nao sei onde sera... melhor, o fim nao sei se existira... creio que nao...
Beijos no coracao!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fotos da Índia, Tailândia e Malásia

Tentei por várias vezes colocar fotos relacionads com os posts que ía escrevendo mas nunca o fiz com sucesso. Apenas consigo lançar 3/4 fotos de cada vez e isso não me satisfaz. Se alguém me puder explicar como fazer um albúm de fotos no blogger, fico eternamente grata :-)
No facebook, não me apetece porque o processo também não é dos mais rápidos e eficazes, pelo que decidi pelo Picassa, como solução para este meu "problema". Assim, aqui vos deixo o link que vos dá acesso a algumas das fotos que tenho tirado ao longo destes 8 meses. Algumas estão repetidas mas estou a trabalhar nisso para que a visualização se torne mais prazerosa. A selecção está em curso :-) Sejam pacientes!
Beijos no coração!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Panchakarma da cobra

Terminou hoje o meu tratamento panchakarma. Seria, normalmente, razão para estar excitadíssima. Por várias razões. Por poder voltar a comer normalmente, por poder voltar a ter uma pele com um cheiro normal (os óleos ayurvédicos podem ser os melhores do mundo, mas são também os mais mal cheirosos!), por poder voltar a ter sexo (caso me apeteça, ora!!!), por poder voltar a fazer caminhadas longas, yoga sem restrições (estava proibida de fazer inversões) e, principalmente, por poder ter joelhos sãos. Essa foi a razão que me levou a gastar dinheiro e tempo com este panchakarma. Não correu bem, aparentemente. Banha da cobra? Melhor. Panchakarma da cobra?
Os meus joelhos estão iguais ao que estavam quando comecei o tratamento. Como se isso só não bastasse para não estar feliz da vida, a minha médica ainda consegui deixar-me mais... irritada será a palavra certa... irritada quando me fez saber que deveria continuar por 3 meses a toma de uma data de cenas ayurvédicas porque os meus joelhos não estão melhor (grande novidade!) e que essas cenas não estão incluidas nas 24000 rupias que paguei. Ou seja, tenho que pagar.
Será que no fim dos 3 meses, se vai lembrar que há algo mais indicado para os meus joelhos do que as cenas que me quer dar agora e que o deverei tomar por mais 3 meses e, claro, pagar? Será que algum dia me conseguirá devolver os joelhos que tinha há uns anos??
Não sei que dizer, não sei que fazer... Help. Algum conselho?

domingo, 11 de julho de 2010

Essa coisa chamada monsão

Sempre tive curiosidade de saber como é a monsão. Tipo, como é possível viver num sítio que durante 2/3 meses se transforma num rio? Curiosidade idiota, eu sei, mas... de idiota todos temos um pouco, não?!! LOL

Bom, quando decidi voltar à India não decidi matar a curiosidade mas o destino encarregou-se de me la matar! Pois! Só escolhi (sem saber onde me estava a meter!) o sítio da India onde a monsão mata a curiosidade de pessoas como eu, à séria, sem dó nem piedade. Ah, pois é!!

Na verdade, é diferente do que imaginei, pois não chove sem parar o tempo todo. Só chove às vezes. Todos os dias, de manhã ou de tarde ou de manhã e de tarde, mas não todo o dia sem parar! Até agora, pelo menos. Mas quando chove, chove mesmo. Torrencialmente. Tudo se transforma, em minutos, numa torrente de água que parece não ter fim. Impressionante.

Nos primeiros dias, se acordava com um sol radiante a aquecer a alma, punha as havaianas, t-shirt e lá ía eu à minha vida de paciente panchakarma. Não precisei muito tempo para entender que aqui, independentemente de fazer sol ou não quando se sai de casa, leva-se SEMPRE o chapéu-de-chuva e uma camisola quente, PELO MENOS. Porque a chuva não se faz anunciar e chega rápido e violentamente sobre as nossas cabeças.

Não está frio, mas o céu já nos bombardeou com umas pedritas de gelo. Também não está calor, mas quando não chove sabia bem um mergulho na piscina do templo. Não sou corajosa o suficiente para tal - nunca vi uma mulher cair na água e não quero tornar-me lenda. Não está tanto calor para tamanho risco...

Humidade entranha-se nos ossos. E nas paredes. E nas roupas. E em tudo. Um horror. O mais difícil, para mim. Detesto humidade, sentir as coisas meio-secas, meio-molhadas. Por isso, quando faz sol, é ver toda a gente a estender as roupas sobre as pedras, os sapatos, os tapetes e tudo o demais. Para secá-los e para que o cheiro bolorento se vá. Pena as casas não terem telhados removíveis automáticos para que o sol pudesse entrar adentro e secar tudo de uma vez!

Por um lado, não me afecta muito porque, depois de vários meses num constante frenesim, sinto falta de tempo para estar apenas comigo, com as minhas leituras, com os meus filmes, com os meus pensamentos. A chuva dá-me isso, sem qualquer esforço da minha parte. Por outro lado... já perdi 3 chapéus-de-chuva, as minhas roupas cheiram mal e quando as lavo estão 4 dias a secar e já escorreguei na lama 3 vezes. É fodido (e não é o amor!)!

Mais uma experiência para a minha lista de "coisas que quase ninguém quer experimentar para além de mim mesma".

Vou ficar por aqui até final do mês. Se conseguir, até lá, ter ainda coisas secas para vestir e não acabar deprimida com a inconstância do tempo...

Love!

sábado, 10 de julho de 2010

Kichari, tatoos e raga's

A isso se pode resumir a minha vidinha de exploradora dos misterios da vida, nesta bela localidade que da pelo nome de Bhagsu, desde ha 3 semanas sensivelmente... kichari, tatoos e raga's :-)

Voltei a India, depois de umas voltas pela Tailandia e uma pequenissima incursao na Malasia. E para nao ser sempre do mesmo, decidi mudar um pouco o registo. Umas ferias do que tem sido os ultimos meses, ou seja, yoga, massagens, vida social, sol, calor...

Entao. Vim quase directa para Dharamsala. Melhor, Bhagsu. Porque Dharamsala fica um pouco abaixo. Na verdade, quem vem para Dharamsala nunca vem para Dharamsala. Porque o que interessa fica acima. Dalai Lama, budismo, meditacao e afins. Mcleod Ganj e o nome do sitio onde se encontra isso tudo. Como estou numa de ser diferente (aos 33 apetece-me dar uma de rebelde!) vim ainda mais acima e instalei-me em Bhagsu. Nao morro de amores pelo Dalai Lama e nao faco questao de ir ve-lo. Do Budismo, o que sei chega-me. Meditacao tambem nao e novo para mim, portanto decidi ocupar os meus dias na montanha de forma alternativa.

Em Bhagsu encontra-se de tudo. E um sitio pouco genuino mas na verdade, sitios genuinos na India nao interessam a uma mulher que nao esteja acompanhada (de preferencia por um homem) - eu, nesta etapa da minha "exploracao". De tudo o que por aqui se arranja, empinei com um tratamento ayurvedico (Panchakarma), aulas de bansuri e canto tradicional indiano.

O Panchakarma e dificil de fazer mas esta a dar resultados. Os meus joelhos estao cada vez melhor e quase ja noa tenho dores!!! Fantastico!! Comecei com massagens e banhos de vapor e tomando uma mistura de ghee derretido (google it!) com umas ervas medicinais todas as manhas de estomago vazio. Agua, uns 4 litros todos os dias. Ao cabo de 5 dias, lugar ao vomito. Sim, vomito. Pela manha, de estomago vazio, naturalmente. Depois de beber um litro e meio de uma mistela intragavel, vomita-se tudo. Naturalmente ou induzindo o vomito. Temos que ser fortes! Ao decimo dia, diarreia. Apos comer uma pasta suculenta pela manha, vai-se para casa e passa-se o dia todo a cagar. Mesmo. E o dia da diarreia. Ao fim de 2 semanas, o tratamento muda para edema (google it again!), massagem facial com vapor e limpeza das vias respiratorias e aplicacao directa de oleos medicinais nos joelhos.

Depois do que acabo de descrever, e legitimo perguntarem: "Tas maluca??" Respondo: "Nao. nao estou maluca! Simplesmente acredito no poder curativo da Ayurveda e no seu metodo de limpeza profunda do organismo, com especial incidencia no estomago (por isso o vomito) e os intestinos (por isso a diarreia e os edemas) e consequente tratamento da doenca."

Para alem de tudo o que ja descrevi, devo realcar a rigidez inerente a dieta e habitos de vida. Kichari (google it again, please and sorry!) e o que tenho comido praticamente sempre, tabaco, alcool, drogas e sexo, NAO. Vida social o mais reduzida possivel. Shanti, shanti e o melhor amigo do Panchakarma ;-)

Por todas estas razoes, tenho passado o tempo quase sempre em casa onde tenho um vizinho tatuador. Dai, a minha vida em Bhagsu tem sido, ir ao Panchakarma, cozinhar kichari, comer kichari, assistir as tatuagens que o meu vizinho faz e ir as aulas de canto e flauta indianos.

As aulas de canto e flauta sao o unico momento social diario que tenho (o tatuador e um bocado snob e nao tenho paciencia para americanos pseudo-artistas snob's) porque os professores sao uns curtidos e sempre me divirto imenso! Ja aprendi umas raga's. Mas o mais giro da historia das aulas e que descobri ha uns dias que tenho um amigo portugues em comum com os professores! Foi seu aluno em Varanasi ha uns anos e sem saber, vim parar na mesma escola. E em Bhagsu ha imensas escolas de musica... O mundo e pequeno, ha?!

Para terminar este post a tempo de voces nao estarem fartos e desistirem de continuar a ler, termino aqui, apenas com o Bhagsu label: kichari, tatoo's e raga's!